sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lições de um discípulo subterrâneo

Um questionamento que devemos nos fazer ocasionalmente na nossa vida cristã é: temos sido realmente discípulos? Muitas vezes podemos estar vivendo apenas como membros de uma igreja, participantes de uma religião, ou estudantes de teologia.

O chamado de Cristo é para que fossemos discípulos e fazermos outros discípulos, se quisermos, realmente, nos identificarmos com Jesus não existe alternativa. Apesar de que ter uma religião é bom, sem membro de alguma igreja cristã é bom, estudar teologia é bom, não é somente esse o desafio que Cristo nos deixou.

Olhando para a vida de um dos discípulos de Jesus (José de Arimatéia), podemos tirar, ao menos, quatro lições muito importantes do que está envolvido nessa questão de ser discípulo e não somente religioso.

Em João 7.45-52 lemos: “Voltaram, pois, os guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam eles: Jamais alguém falou como este homem. Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também vós fostes enganados? Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita. Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta.”

Pode parecer estranho estudar o exemplo de José de Arimatéia e começar com um texto em que ele nem é mencionado. Mas é disso mesmo que quero tirar uma lição. Sabemos que José de Arimatéia era membro do sinédrio e quando este estava reunido para tratar do que Jesus vinha ensinando e Jesus, mesmo ausente, é acusado de distorções doutrinárias, José de Arimatéia não se pronuncia para defender Jesus, ele permanece em silêncio. Então fica para nós a primeira lição:

1. Quanto mais tempo você leva para se identificar como um discípulo de Jesus Cristo, menos valor prático esse discipulado vai ter na sua vida.

Mais pra frente na vida de José de Arimatéia (conforme registrado em Mateus 27.57-61) vemos que houve uma identificação, mas o valor prático já era muito menor.

Continuando a ler sobre a vida deste homem, nos deparamos com o texto de Marcos 15.42-47, que diz: “Ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, vindo José de Arimatéia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Mas Pilatos admirou-se de que ele já tivesse morrido. E, tendo chamado o centurião, perguntou-lhe se havia muito que morrera. Após certificar-se, pela informação do comandante, cedeu o corpo a José. Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo. Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observaram onde ele foi posto.”

Vemos que o texto descreve José de Arimatéia como alguém que “também esperava o reino de Deus” e que, talvez, só tenha entendido o propósito de vida e os ensinamentos de Cristo ao vê-lo crucificado. Mas, independente disso, ele agora demonstra identificação que não teve anteriormente e nos dá a segunda lição:

2. Tenha coragem de discordar, quando a reputação de Jesus estiver em jogo.

Agora, num momento em que tinha tudo a perder (inclusive a própria vida), José de Arimatéia ousadamente pede o corpo de Jesus às autoridades e se identifica como um seguidor. Se compararmos o procedimento de José com o de Pedro, na véspera, veremos que sua atitude exigiu muita coragem.

Em Lucas 23.50-56 vemos: “E eis que certo homem, chamado José, membro do Sinédrio, homem bom e justo (que não tinha concordado com o desígnio e ação dos outros), natural de Arimatéia, cidade dos judeus, e que esperava o reino de Deus, tendo procurado a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus, e, tirando-o do madeiro, envolveu-o num lençol de linho, e o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ainda ninguém havia sido sepultado. Era o dia da preparação, e começava o sábado. As mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento.”

A história do primeiro século nos dá duas informações muito importantes, uma é que os reis e líderes da época eram enterrados banhados de muitos aromas. Em alguns casos, toneladas de aromas eram investidas, sendo que esses aromas eram produtos muito valiosos. Outra coisa que sabemos é que o custo de uma sepultura era elevado e somente pessoas com boas condições financeiras e influência social tinham sepulturas. Na condição em que Jesus foi executado, não era para ele ser sepultado, talvez o normal seja que seu corpo nem fosse retirado da cruz, mas José de Arimatéia o colocou na sua sepultura familiar.

O que aprendemos com isso? José de Arimatéia investiu financeiramente algo considerável nesse sepultamento e correu o risco de ter sua honra e sua posição no sinédrio ameaçados por conta deste sepultamento. Então temos nossa terceira lição:

3. Esteja sempre preparado para dar o seu melhor pra Jesus, mesmo quando já pareça muito tarde.

Para concluir, vemos no versículo 42 de Marcos 15 (já transcrito acima) que José de Arimatéia precisou vencer medos e ter muita coragem para se dirigir a Pilatos e pedir o corpo de Jesus. Citando literalmente o Dr. Carlos Osvaldo Pinto: “De um covarde que não tinha coragem de falar quando havia pouco a perder, ele se tornou um homem corajoso que foi e mostrou que era um discípulo, quando havia tudo a perder.” Essa foi a mudança de vida vista claramente pelas atitudes de José de Arimatéia e disso tiramos nossa última lição:

4. Ninguém merece mais o seu medo, do que Jesus merece o seu compromisso.

Termino com outra citação do Dr. Carlos Osvaldo Pinto, que eu espero, possa motivá-lo a ser mais do que um religioso, mas passe a ser um verdadeiro discípulo de Jesus.

“O discipulado não é uma opção de vida a ser exercida quando as circunstâncias favorecem, mas um compromisso de amor a ser exercido a partir do primeiro dia da nossa vida cristã.”

Saudações,

(texto baseado em mensagem do Dr. Carlos Osvaldo Pinto aos alunos do SBPV no dia 09/03/2010)