sábado, 17 de julho de 2010

Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo...

“Respondeu ele: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo” – João 9.25

A conversa era tensa. E piorou quando o sinédrio disse: “Dá glória a Deus”, iniciando o diálogo com ex-cego de nascença. Esta frase iniciava o processo por heresia. Normalmente degenerava em condenação. A resposta do inquirido foi desconcertante. Desconhece teologia, mas tem certeza de uma coisa: era cego e agora via. Contra os discursos, exibiu a sua experiência. Mais à frente, o ex-cego fulminou a falação dos teólogos: “Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer” (vv. 32-33).

Muitas experiências não provam nada. “Eu senti no meu coração” ou “Deus me falou” são argumentos que pretendem ser a prova de si mesmos. O raciocínio é falho. Além disto, a subjetividade não pode julgar a objetividade. O que é, é. Isto independe do que a pessoa sinta. Sentimentos não provam fatos. Mas o personagem anônimo de João 9 mostrou a transformação em sua vida. Não exibiu sensações, mas um fato que não podia ser negado. Mais tarde, o sinédrio enfrentou a mesma situação, com a cura do coxo à porta do templo: “Que havemos de fazer a estes homens? porque a todos os que habitam em Jerusalém é manifesto que por eles foi feito um sinal notório, e não o podemos negar” (At 4.16).

Em programas de televisão vejo pessoas alegando curas de dor. Nas costas, na coluna, no braço. E o milagre é dado. Mas dor é um conceito subjetivo. Lembro-me de Cassius Clay, boxeador, lutando com a mandíbula fraturada. Eu, quando sinto dor, logo me recolho junto à minha esposa. O “tadinho!” dela e seu carinho compensam tudo. Longe de mim querer continuar fazendo alguma coisa com mandíbula fraturada. Mas nunca vi alguém realmente paralítico, atestado por médicos, ou cego, atestado por oftalmologista, ser curado. Por que não se exibem atestados médicos declarando a enfermidade da pessoa supostamente curada?

Mas o importante, na realidade, é isto: o testemunho baseado em experiência de transformação de vida é irrefutável. Muita gente pensa que não pode evangelizar porque não estudou em seminário (tenho dúvidas se seminário forma evangelistas) ou por não ter cultura acadêmica. O que alguém precisa para evangelizar é mostrar que Jesus mudou sua vida. Ouvi isto de um homem que testemunhava junto a outro: “Eu era um beberrão, espancava minha esposa e meus filhos se urinavam de medo quando eu chegava em casa. Jesus me transformou. Amo minha esposa, meus filhos têm prazer em minha companhia. Jesus mudou minha vida!”. O colega ouviu impressionado. Ele conhecia a vida anterior de quem lhe falava.

Gente transformada tem o que dizer. Gente transformada nunca consegue ficar sem dizer. Como disse Bernanos: “Os convertidos são incômodos”. Precisamos de crentes que tenham experimentado uma profunda transformação de vida, e não apenas aderido a um programa ou a instituição. De gente que foi regenerada pelo poder do evangelho. Essas pessoas têm um testemunho irrefutável.

Você tem o que dizer? Jesus deu significado à sua vida? Então diga! Mas se Jesus nada fez em sua vida e você ainda continua cego ou coxo à porta do templo, clame a Deus. Não por riquezas e bênçãos, mas por transformação. O evangelho transforma, enche a vida de significado, dá razão para viver. E leva a um testemunho poderoso.

Jesus faz a diferença. Uma vida transformada por ele chamará a atenção. E dará um testemunho irrefutável. Que o Espírito de Deus nos habilite a todos, para podermos dizer: “Eu era…, mas o homem chamado Jesus…”.

(Texto do Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho de Maio/2010)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Missão e a Igreja

"A igreja recebeu inúmeras ordens e modelos que revelam o que ela deve ser e fazer. não é difícil catalogar um grande número de ordens específicas dadas aos cristãos primitivos e às suas igrejas, ordens para se dedicar ao cuidado e orientação das pessoas, ao testemunho, à adoração, ao estudo e à contribuição. Todos esses ministérios foram iniciados com entusiasmo pelos cristãos primitivos, quando eles começaram a se sentir como parte do movimento do espírito de Deus. De alguma maneira, no meio de todas essas palavras e imagens, a igreja moderna deve procurar sua identidade pessoal e sua dinâmica para executar seu trabalho no século XX.

Pense em todas as metáforas e imagens encontradas no Novo Testamento que revelam a natureza e a missão da igreja: luz, sal, fermento, uma coluna sustentando a verdade, um embaixador de Deus, um semeador, um templo de adoração, um servo carregando uma cruz. A lista é interminável!

Existem tantas coisas importantes e necessárias do que a igreja deve ser e fazer que o eixo ao redor do qual todas elas giram pode ser perdido caso um aspecto ou detalhe seja tratado à parte dos demais. No final, todas estas imagens e ordens estão baseadas na realidade de que a igreja é um resultado e ao mesmo tempo um participante da missão de Deus. Deus está agindo na história para realizar Sua redenção e para reinar sobre uma criação rebelde. Deus tem-Se revelado miraculosamente, agindo na história na pessoa de Jesus Cristo e através do Seu povo. A igreja é ao mesmo tempo uma consequência e uma colaboradora com Deus no processo de estabelecer o reino de Deus aqui na terra.

Expressar e definir a essência da missão da igreja é delinear a missio Dei. A missão da igreja é a sua participação no, e cooperação com o, que Deus está graciosamente fazendo, redentivamente, aqui na terra. Deve ser um sinal da presença do reino em palavras e obras. Deve ser uma resposta parcial à oração: "venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu." É compreender a igreja na sua realidade com a nova criação de Deus, o corpo de Cristo, o templo do Espírito. A missão da igreja deve ser compreendida em termos do Deus triúno, cuja criação e cujo agente no mundo é a igreja de Jesus Cristo.

Qualquer que seja a missão que se imagine, deve estar firmada e centralizada na realidade e no poder de um Deus amoroso e gracioso, que amou o mundo de tal maneira que mandou Seu único filho para nos libertar e nos possibilitar participarmos da vida do Seu domínio real, na companhia do Seu povo. O movimento de sair para buscar e salvar os perdidos, para resgatar aqueles que vivem com medo da morte, para alimentar os famintos e para vestir os nus, para libertar os oprimidos, está alicerçado na ação de Deus em mandar o Filho e o Espírito. "Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio" (João 20.21)."

Este texto foi extraído do capítulo 56 do livro Missões Transculturais: Uma Perspectiva Estratégica, de Ralph D. Winter e Steven C. Hawthorne, publicado pela editora Mundo Cristão.

Apesar do tempo em que foi escrito e pensando numa sociedade de algumas décadas atrás, continua muito atual, principalmente pelo tema que trata: a missão da igreja. Após a sua morte Deus nos deixou uma ordem muito específica e sempre que tratarmos de missão da igreja não temos que nos preocupar se seremos remetidos a décadas ou séculos atrás, pois na verdade temos que entender que seremos sempre remetidos ao primeiro século é a ordem de Cristo.

Saudações,