sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Maravilhosa Graça

Uma jovem criada numa pequena cidade do interior achava que seus pais eram muito antiquados e um tanto quanto conservadores. Eles costumavam reclamar das músicas que ela ouvia, de como se vestia e do piercing que colocou no nariz. Numa noite, após uma forte discussão com seu pai, ele o mandou se trancar no quarto. No seu quarto, com todo aquela raiva, resolveu finalmente por em prática um plano que já tinha em mente. Fugiu de casa.

Ela conhecia São Paulo de ter visitado com os pais e de um intercâmbio que participou com a igreja. Sabia de como a cidade era violenta, mas mesmo assim achou que era a melhor opção de fuga.

Em seu segundo dia na cidade já conheceu um homem. Ele dirigia um carro de luxo que ela nunca tinha visto, ele ofereceu carona, pagou o almoço e conseguiu um lugar pra ela dormir. Além disso, ele deu alguns comprimidos que fizeram ela esquecer da vida e se sentir muito melhor e mais animada. Só tinha uma conclusão: "meus pais impediam que eu fosse feliz".

A vida boa continuou por alguns anos. O homem do carrão - que agora ela chamava de "chefe" - ensinou-lhe a fazer coisas que divertiam os homens. Como ela menor, ela ganhava mais. Passou a morar sozinha num apartamento e podia consumir as coisas de que gostava. Ocasionalmente pensava nos pais, mas a vida que ela levava agora era tão melhor e tão diferente da do interior, que não passava por sua cabeça voltar.

Depois de um ano com a doença, alguns sintomas começaram a aparecer, ao procurar o "chefe", em quem ela confiava, se assustou com a reação cruel dele. "Hoje em dia não há espaço pra quem facilita", foi o que ele disse. Em pouco tempo seu dinheiro acabou e já não conseguia mais os trabalhos de antes. Foi pra rua e agora os clientes que conseguia pagavam tão pouco, que até o seu vício teve que ser substituído por outro mais forte e mais barato.

Um dia, encolhida sob uma marquise, se sentiu como uma garotinha perdida, numa cidade que não se importa. Tinha fome, mas não tinha dinheiro. Precisava de uma pedra. Mas as lembranças de sua vida no interior não saiam da sua mente. Lembrou que até o cachorro da família tinha uma vida melhor que a dela.

"Deus, por que fugi?", ela se perguntou, e uma pontada apertou seu coração. Ela soluçava e chorava sozinha e percebeu que desejava voltar pra casa mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Conseguiu algum dinheiro e ligou três vezes no celular do seu pai, todas as ligações caíram na caixa postal. Somente na terceira ligação teve coragem de deixar um recado: "Papai, sou eu. Estive pensando em voltar. Vou pegar um ônibus e devo chegar ai por volta da meia noite. Se vocês não estiverem me esperando, entenderei... Continuarei a minha vida."

Na rodoviária mendigou pelo dinheiro da passagem. A viagem seria de algumas horas, durante esse tempo pensou em como seu plano era falho. E se o pai não ouvisse o recado, se não tivesse mais aquele número, se estivesse viajando? Talvez eles nem acreditassem que ela ainda estava viva. Precisariam de um tempo pra se recuperar do choque e pensar a respeito.

Seus pensamentos pulavam de um lado para outro e tentava organizar um discurso de desculpas. "Sinto muito. Agora sei que estava errada. A culpa foi só minha, nunca de vocês. Por favor, me perdoem?" Repetiu mentalmente diversas vezes para não esquecer. Sua memória também era afetada pelos anos de consumo de drogas.

Olhando pela janela via uma noite muito escura. A estrada estava vazia, mas trazia muitas lembranças, quanto mais perto chegava, mais medo tinha. Uma placa indicava que haviam chegado a cidade dos seus pais. "Meu Deus!"

O ônibus entrou na rodoviária, mas ela não tinha visão da plataforma. O motorista avisou que ficariam 15 minutos antes de seguir a viagem para os outros destinos. Ela pegou um pequeno espelho, conferiu a aparência, relembrou o discurso. Lembrou da sua doença e os estragos que os anos de viciada tinham proporcionado em seu corpo. "Será que vão me reconhecer?"

A jovem andou pelo corredor do ônibus sem saber o que esperar. Nada do que tinha vivido durante todos esses anos a tinham preparado para o que viu ainda de dentro do ônibus. Na plataforma havia um grupo de, aproximadamente, 40 pessoas entre parentes, amigos, conhecidos da igreja, sua avó e seus pais. Todos usavam chapéu de festa e romperam o silêncio que reinava no local assim que a viram descendo os degraus. Na parede uma faixa dizia: "Bem vinda ao lar!"

O pai foi primeiro a alcançá-la e abraçá-la. Com lágrimas nos olhos ela encarou o pai e começou o discurso tão planejado. O pai interrompeu: "Fique quieta, minha filha. Não temos tempo para isso agora, senão você vai se atrasar para a festa que preparamos pra você em casa".

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Eu termino de escrever esse texto com lágrimas nos olhos. Você certamente já leu histórias parecidas com essa, ela ilustra o que é a graça. Que maravilhosa é a graça de nosso Deus. Ele é capaz de fazer por nós, muito mais do que esse pai, mesmo quando fazemos com Ele pior do que essa jovem.

Saudações,

(Texto adaptado de trecho do livro "Maravilhosa Graça" de Philip Yancey, Editora Vida)

Um comentário:

  1. Uau..que lindo.. também me emocionei.. que o Senhor Jesus continue lhe usando para a glória de nosso Deus e Pai! Com amor, fé e esperança!Pastor Dario

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